dia 12/06/2011 as 20:00- Sesc Cuiabá
Workshoop de Criação dia 11/06 as 9:00- Sesc Mato Grosso
Maiores infos: Programação Sesc Mato Grosso
agradecimentos a Sônia Sobral e toda equipe do Rumos-Dança Itaú Cultural.
Maiores infos: Programação Itaú Cultural
Jornal Gazeta- MT
A Gazeta – MT 10 06 11_E3_Rumos Dança
CRÍTICA DE LOURENÇO FALCÃO- JORNAL DE CUIABÁ
Acidente cultural
Um japonesinho de um metro e sessenta mais ou menos e apenas 27 anos engrandeceu meu domingo. O coreógrafo e bailarino, com o seu solo “Como superar o grande cansaço?”, inspirado em texto de Nietzsche sobre a fadiga, arrebatou uma plateia de cerca de sessenta pessoas no Sesc Arsenal. Uma dança contemporânea bem à altura do que Cuiabá precisava e precisa. Uma manifestação artística que incomoda, que provoca reflexões, que faz a fila andar. Grande arte.
Eduardo Fukushima é de São Paulo e está dançando pelo Brasil graças ao apoio do Itaú Cultural. Sua passagem por Cuiabá também foi apoiada pela Secretaria de Estado de Cultura. Lembro-me de ter escrito aqui mesmo neste espaço um texto metendo bronca na oferta cultural cuiabana que acho sofrível. A ausência de trabalhos na área da dança contemporânea foi um dos principais fatores que me levou a escrever dessa forma. Ou fui uma dessas coincidências da vida ou foi Deus mesmo que me ouviu e mandou esse cara pra cá, saciar minha vontade do novo, daquilo que não conheço, daquilo que me deixa chapado, daquilo que me faz escrever de forma mais apaixonada e verdadeira.
Sempre acreditei que a arte existe mesmo é pra dar esses tapas na cara da gente e abalar com nossos conceitos cristalizados pelo marasmo arrastado que nos impregna de lugares comuns.
Fukushima começou seu balé visceral em pé, rente e de frente a parede. Inclinou seu corpo para frente e bateu com a cabeça na parede, escorando-se. Foi flexionando seu corpo para frente e abaixando a cabeça lentamente até tocar o chão, num impressionante alongamento. Aí caiu lateralmente. Repetiu esse movimento três vezes e então fez o diabo com o seu corpo arrastando-se pelo chão, como um réptil, às vezes pulando acocorado, levantando-se e abaixando-se em seguida, simulando massagens cardíacas etc. De vez em quando dava umas paradinhas rápidas e depois retomava o movimento.
Tudo ao som de uma trilha que combinava minimalismo com eletroacústica e mais sons que imitavam ruídos como o de cacos sendo varridos e até umas microfonias que a gente nem sabe se foi problema no som ou fazia mesmo parte da trilha.
Terminou seu solo após 25 minutos e estava visivelmente extenuado. Fukushima, coincidência ou não, é o nome da cidade japonesa que foi vitimada por um abalo sísmico seguido por um tsunami recentemente. Os japoneses têm uma capacidade incrível de se reerguer diante dos acidentes históricos e naturais. Fukushima aqui em Cuiabá foi um acidente cultural. Espero que nós, cuiabanos, também saibamos tirar proveito dessa situação.
LORENZO FALCÃO é editor do caderno Ilustrado e escreve neste espaço às terças-feiras