Ruy Filho: Ao trabalhar com o mínimo, a presença se faz fundamental. Como lida com a presença do público, já que este também se valida como tal?
Eduardo Fukushima: A presença do público é fundamental, minhas danças só acontecem em sua plenitude ao serem expostas ao público, no teatro é que percebo se crio realmente silêncio ou se crio realmente ruídos ou se realmente crio um espaço de comunhão, de encontro, de acontecimento. Me instiga perceber a possibilidade que o movimento em sua crueza tem em criar todas essas coisas à cima. As vezes rola as vezes não..depende de muitos fatores, sempre é um mistério.
Ruy Filho: Ao trazer o gesto como possibilidade de fala, você amplia a condução do discurso ao outro. O quanto em sua pesquisa o gesto é verbo e o quanto o silêncio é ação?
Eduardo Fukushima: Penso que o gesto e o silêncio podem ser ações e verbos nas minhas criações. Tem vários gestos que encontro palavras e outros vários que não encontro palavras e são pura ação…..O silêncio trabalho como um espaço do entre ações, o vazio, um espaço onde tudo pode acontecer relaciono ao Ma termo usado nas artes e cultura japonesa. Esse silêncio entre pode se transformar em verbo e ação para quem assiste.
Ruy Filho: Você parte do gesto como construção de outra qualidade de comunicação. De todo modo, a leitura de um gesto é sempre subjetiva, o q implica em um diálogo mais aberto do que o verbal. Pra você, qual o ganho nessa outra potência de uma comunicação não conclusiva?
Eduardo Fukushima: Penso que é uma das caracteristicas intrinsicas da dança a abstração que gera uma comunicação aberta e jamais conclusiva. Cada gesto e movimento pode carregar diversas leituras e isso acredito que estimula a imaginação do espectador. Como criador não busco passar uma mensagem para o público, me preocupo mais em perceber quais possíveis leituras podem carregar em um gesto do que encontrar um gesto que significa alguma coisa especifica. A idéia é sempre abrir a possibilidade de leitura e não fechar