Texto da querida parceira, amiga, escritora e dançarina Bel Monteiro sobre o título.
“é tempo de desilusão, as notícias chegam na velocidade da luz, se embolam
ávida por qualquer fuga
a estrada me impele, ‘a dança é o arquétipo do fugitivo’ [Valéry]
pôr do sol, todas as aves cruzam a rodovia a caminho de suas árvores
onde ficam?
atravessam três tucanos negros na contraluz
aterrisso no espaço do mistério
o teatro é residência do nosso fugitivo que se depara com um semelhante
O teatro,
a esquina, a caverna, o fogo que afasta as feras e produz
sombra
o jadis, o já dito, o fim do mundo, assistimos em silêncio todos fugitivos buscamos
o profeta
o marginal
o poeta
Einstein dizendo da relatividade quando a noite
clarão no delírio de orquestrar o desabamento das geleiras, a moto que passa, o sibilar do grilo falante, ‘o poema é a flauta na floresta’ [Valente]
nosso maestro percorre o caminho do arco, abandona as batutas no meio fio estamos atentos para onde as aves, où, oui, sim, hi, decifra-me, ou
salta
todo corpo que salta à frente
desenha uma parábola [Benassi]
‘evitar amar entender PITÁGORAS’ [Tavares]
nos lança à fortuna
miserável
mãos em prece me dá uma moeda
o arco meu coração não aguenta
‘a vida,
tão difícil de possuir completa, e tão triste de possuir parcial’ [Pessoa]
lança no espaço imantado
atravessa um oceano
a fome a magia a fêmea à fera
dou as costas,
decifra-me, ou”