A dança é uma estratégia de sobrevivência para esse jovem coreógrafo cujo percurso peculiar já é consistente e denso. É porque seu corpo já se transformou, de fato, em assunto da dança, algo que, geralmente, demora a emergir.
É o cansaço existencial e o seu respectivo estado corporal que disparam essa dançavontade. O agir sobre o niilismo leva à exaustão através de incessantes repetições de movimentos. Como nenhuma repetição é igual a outra, surge uma série de modificações pelas quais um outro corpo emerge. E, resignifica aquele niilismo, de um corpo inicialmente abandonado.
Este trabalho, com as séries de repetições, devolve para a dança uma questão importante, a da memória. Quando o “mercado”, público e imprensa exigem a novidade, ou o inédito, ou algo nunca visto em dança, Eduardo nos lembra que sem repetição não há aprendizado. Não há aquisição de conhecimento e, a memória é central para que isto aconteça. Dinâmica e relacional, a memória está sempre mudando pelas reentrâncias de novas informações, se ela não se modifica, estamos fadados a morte, pois nos tornamos inaptos a lidar com o mundo agora.
É pelo dinamismo da memória, via repetições-retroalimentação-aprendizagem, que tanto Eduardo como a dança, podem superar seu próprio cansaço existencial.